quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quer que a educação melhore? Faça alguma coisa!


Vi uma nota na internet que me deixou bastante indignado: “Mais de 14 mil alunos de Salvador só terão aulas na rede estadual em abril”. A curta matéria conta o caso de vários meninos e várias meninas que, por conta dos quatro meses de greve da rede pública estadual baiana, só voltarão às aulas no dia 1º de abril de 2013 e, por conta disso, terão de ficar mais de noventa dias parados em casa sem fazer nada.

Tenho duas coisas a dizer sobre isso: ninguém é inocente nessa parada. Todas as pessoas, guardadas as devidas proporções, têm sua parcela de culpa e deverão assumir as suas responsabilidades se quiserem mesmo resolver o caso. Dou ênfase a isso porque não adianta jogar a culpa no governo, pois é chover no molhado dizer que as autoridades não estão nem aí para a educação pública. O governador, o secretário de Educação e os deputados baianos estão pouco se importando se os e as estudantes da rede pública ficarão mais de três meses sem ter o que fazer por uma razão bem simples: os filhos e netos deles não estudam lá. Aconteça o que acontecer, todos eles dormirão com a certeza de que os seus filhos estão sendo muito bem treinados para sucedê-los no poder e continuar dominando os subalternizados. É até bom que filho de pobre não estude mesmo, pois, se essas faveladinhas virarem doutoras, quem vai lavar minhas cuecas?

Certa vez, li um texto que dizia que o senador Cristóvam Buarque elaborou um projeto de lei para obrigar os políticos a matricular os filhos deles em escolas públicas. Ao conversar sobre isso com um vizinho, ele disse que o senador Buarque era um babaca, otário e desocupado por pensar uma coisa ridícula como essa. “Tá vendo que um projeto desse nunca vai ser aprovado?”, disse o meu vizinho. E eu rebati: “o senador Buarque não é babaca coisa nenhuma. Foi você que não sacou o detalhe da jogada. Ele sabia muito bem o que estava fazendo. O objetivo dele era ver se as pessoas perceberiam por que os políticos não se interessam em melhorar os níveis das escolas públicas brasileiras, e se haveria alguma reação contra esse descaso”. Porém, quem ficou sabendo disso? E para as pessoas que souberam, quem deu importância ao caso?

A situação da educação no Brasil está do jeito que está porque as pessoas que mais deveriam pressionar por uma educação pública de qualidade são as que menos pressionam. Ninguém se importa com educação! Afinal, qual foi o pai ou a mãe de estudante que foi à porta da governadoria do estado exigir que o governador Jaques Wagner negociasse com a categoria? Nenhum! Pelo contrário, todas essas pessoas ficaram paradas em casa, xingando as professoras de preguiçosas, vagabundas e desocupadas que armaram todo esse fuzuê para não trabalhar.

Como se isso não bastasse, muitos pais e mães, ao invés de defender a escola pública, apoiar o professorado e reconhecer como justas e fundamentais as reivindicações da categoria, foram às portas das escolas particulares pedir bolsas para os seus filhos. Lembro de uma matéria publicada em um jornal da cidade sobre uma mulher cuja filha estudava no Colégio Estadual Thales de Azevedo. Em vez de protestar contra o descaso do governador e se juntar ao professorado para pressionar o governo, ela escreveu uma carta endereçada à diretoria de uma escola particular parede-meia com a já citada escola estadual para pedir uma bolsa para a filha dela. O jornal ainda publicou a carta em que a autora disse que estava fazendo aquilo porque não aguentava mais ver a filha dela em casa sem estudar. Afinal, a menina tinha desejo de estudar Medicina, o ENEM estava se aproximando e ela não estava sendo preparada para isso. E finalizou a carta dizendo que essa atitude pode parecer um pouco egoísta, mas "cabe a cada um encontrar as suas formas de lutar".

Não sei se essa senhora foi exitosa em sua investida, mas, na hipótese de ela ter logrado êxito, você acha que ela se preocuparia com a situação das outras adolescentes que ficaram sem aula? Você acha que ela se preocuparia com quem não conseguiu bolsa em alguma escola particular? Se ela não se mobilizou antes, você acha que ela se mobilizaria depois? “A minha filha está estudando para fazer Medicina, portanto não me interessam os outros. Eu sou mãe da minha filha, e não das filhas das outras pessoas. Quem está sem aula que se dane! Eu dei o meu jeito, portanto elas que deem o jeito delas também”. Pimenta no rabo das filhas dos outros é refresco.

A outra coisa que eu tenho a dizer é a seguinte: é assim que se inicia o extermínio da juventude negra: fazendo de tudo para os e as estudantes ficarem fora da escola, perderem o ritmo de estudo e saírem às ruas em busca do que fazer para vencer o tédio e a ociosidade. Alguns inevitavelmente viram escravizados do subemprego que lhes paga uma mixaria que é toda consumida com a compra de celulares vagabundos e tênis de marca. Outros se tornam presas fáceis da bandidagem e, quando isso acontece, o mesmo estado que negou a essas pessoas todas as chances de sair daquele cenário de miséria e carência de perspectivas manda a polícia fazer o serviço sujo de puxar o gatilho da .40 e estourar os miolos delas, sob o argumento de estar combatendo a criminalidade.

E depois ainda querem que eu apoie essa excrescência jurídica chamada redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Sou terminantemente contra! Invista em educação e incentive o protagonismo juvenil que o contingente de soldados do tráfico diminuirá. Há vários pretos favelados por aí que só precisam de uma oportunidade para se tornar engenheiros da Aeronáutica, médicos neurocirurgiões, desembargadoras, ministras do STF, arquitetos, biólogas, oficiais das Forças Armadas, psicólogas, dentre outras coisas. Mas as poucas esperanças de vida são aniquiladas quando esses meninos e essas meninas vão à escola e não têm aula, não encontram a biblioteca aberta, encontram professores desinteressados que reclamam das péssimas condições de trabalho e descontam as suas frustrações em cima de quem é mais vítima do descaso das autoridades públicas do que eles. Afinal de contas, é bem mais fácil descontar a raiva em cima de quem é mais fraco do que peitar os mais fortes e poderosos em busca de uma solução para o problema.

Isso foi só um desabafo. 

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