terça-feira, 20 de setembro de 2011

"E agora? Quem poderá me salvar?"


Conversa rápida que tive ontem com uma das minhas estudantes antes da aula:

Ela: Esse lugar está horrível. Violento demais. Lá em frente ao prédio onde eu moro, junta um monte de gente para usar e vender drogas todo dia a partir das 10 da noite. Por conta disso, tenho de ficar sempre atenta para não deixar os meus filhos na rua até tarde. Sei lá, pode acontecer alguma briga ou tiroteio e eles serem feridos com isso.

Eu: É verdade. Você tem de tomar muito cuidado.

Ela: É por isso que eu dificilmente assisto à sua aula. Tenho de voltar pra casa cedo.

Eu: Tranquilidade. É por uma boa causa.

Ela: E o que mais me revolta é que ninguém faz nada. Aquele pessoal faz uma zoada desgraçada todo dia, vende e consome drogas abertamente e ninguém toma uma atitude; ninguém chama a polícia.

Eu: E por que VOCÊ não chama a polícia?

Ela: Eu, não!! Tá louco?! Eu tenho três filhos pra criar. E se esses caras descobrirem que fui eu a autora da denúncia e vierem atrás de mim para se vingar?

Eu: E você já pensou na possibilidade de os seus vizinhos não terem chamado a polícia por essas mesmas razões? Você já imaginou que os seus vizinhos podem sentir o mesmo medo que você sente de denunciar o caso e sofrer retaliações por causa disso? Você já pensou que as outras pessoas que moram no mesmo prédio onde você mora também têm filhos e, consequentemente, também têm medo de morrer e deixar as suas crianças desamparadas?  

Ela: (olhou para mim, virou-se e foi embora sem dizer nada).

Impressionante como as pessoas ficam indignadas com uma determinada situação, mas sempre esperam que alguém resolva a parada por elas. É provável que ela pense que é a única pessoa do mundo que tem filhos para criar, e, portanto, não pode se expor e correr riscos desnecessários - mas os outros podem, é claro.

É o que eu sempre digo: pimenta no rabo dos outros é refresco.